Rio de Janeiro - Dezoito dekasseguis (brasileiros filhos de japoneses que foram trabalhar no Japão) voltaram ao Brasil e estão repassando a profissionais fluminenses os conhecimentos de alta tecnologia adquiridos em uma fábrica de lentes ópticas naquele país. Eles não chegaram a ter problemas por causa da crise financeira internacional, porque quase todos foram contratados diretamente pela filial brasileira da Hoya, inaugurada em novembro do ano passado, no Rio de Janeiro. Alguns foram indicados pela matriz.
No entanto, dekasseguis que ainda continuam trabalhando na fábrica no Japão já tiveram salário e carga horária reduzidos. A informação foi dada na segunda (6) à Agência Brasil pelo chefe de inspeção final do Setor de Qualidade da Hoya Lab, Guilherme Taguchi. Ele trabalhou na matriz japonesa nos últimos cinco anos.
De acordo com o gerente da unidade brasileira, Leonardo Martins, mão-de-obra especializada como essa não é encontrada com facilidade no Brasil. Daí o interesse da filial da Hoya de contratar técnicos que já vieram para o país com um elevado know-how (experiência) sobre o processo de fabricação e tratamento das lentes. "E não precisamos, assim, de um longo período de treinamento dos funcionários."
A empresa começou a funcionar há 16 anos no Brasil, com uma representação comercial da marca e fabricando apenas um produto. Atualmente, a marca produz no país 42 itens diferentes. As vendas cresceram e a empresa resolveu instalar uma fábrica no estado do Rio para atender à demanda. "Agora, com a construção do Hoya Lab, adicionamos um braço industrial que trará um crescimento previsto de 25% no primeiro ano de operação", disse Martins. A fábrica tem cerca de 90 empregados.
Segundo ele, a produção mensal não pode ser divulgada. "Ainda é um segredo fabril", por causa da concorrência, explicou.
Além de elevar o nível de produtividade e de qualidade dos produtos, a contratação dos dekasseguis contribui para reduzir o preço ao consumidor final. Se o produto fosse fabricado no exterior, teria custo bem maior, com taxa de importação, o que inviabilizaria ter um produto de nível tão avançado no Brasil. Então, ter o parque fabril aqui, com mão-de-obra local, facilita muito. Porque, além de melhorar a nossa economia, conseguimos também representar isso em preços melhores". A Hoya Lab produz lentes de grau e lentes de alta tecnologia e faz tratamentos anti-reflexivos de luz em lentes para melhorar a visão das pessoas.
Os dekasseguis que trabalham na filial brasileira são oriundos de São Paulo e do Paraná. Guilherme Taguchi considera o emprego no Rio de Janeiro uma boa oportunidade. "Aqui no Brasil a gente sabe que emprego também está muito difícil." Quando ele começou a trabalhar na fábrica japonesa, há cinco anos, a produção era de cerca de 15 mil lentes por dia, número que caiu agora para um quinto.
A queda não decorre apenas da crise internacional: a companhia abriu duas fábricas na Tailândia, onde a mão-de-obra é muito mais barata. "Um brasileiro no Japão daria para pagar dez tailandeses". No estado do Rio, a produção é bem menor, mas há perspectiva de aumento, pois, "a cada semana, as vendas estão aumentando", disse Taguchi. Com o passar do tempo, um único turno não vai sustentar a demanda, disse ele.
Quando começou a trabalhar no Japão, Taguchi recebia US$ 14 por hora. Hoje, os dekasseguis que continuam na fábrica japonesa tiveram o salário diminuído para cerca de US$ 10 por hora.
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