Minoria na Câmara Alta, China e Ichiro Ozawa darão dor de cabeça a premiê
Depois de garantir o posto de premiê do Japão ao vencer Ichiro Ozawa na disputa pela
presidência do PD (Minshutoo ou Partido Democrático), Naoto Kan tem agora pela frente a sessão extraordinária da Dieta, iniciada na última sexta-feira (1).
Além das dificuldades advindas da perda da maioria na Câmara Alta nas eleições de julho, somou-se ainda a maneira como o governo lidou com o conflito diplomático com a China. A disputa com a China sobre as Ilhas Senkaku, a alta do iene e até mesmo os escândalos envolvendo Ozawa devem fornecer ingredientes para críticas da oposição e ameaçam arruinar a popularidade reconquistada após a reforma ministerial conduzida há três semanas.
O governo espera aprovar na próxima sessão o orçamento complementar deste ano fiscal, que termina em março. O valor deve ficar em torno de ¥ 4,5 trilhões, montante que seria possível reservar mesmo sem expedir títulos da dívida pública. Os recursos terão de ser suficientes para financiar as medidas apoiadas por Naoto Kan na geração de emprego; na criação de uma nova estratégia de crescimento econômico; no bem-estar de crianças e idosos e na revitalização das economias regionais e de pequenas e médias empresas - áreas que suas promessas enfatizam. Uma quinta prioridade são as reformas de regulamentações, entre elas a mudança na lei de haken.
O assunto, que afeta diretamente as empreiteiras, é discutido há um ano e está na pauta de votação.
A oposição, por sua vez, concorda sobre a necessidade do orçamento complementar, e a situação quer mostrar que pode alcançar propostas suprapartidárias. Mas o PLD (Jimintoo ou Partido Liberal Democrata), por exemplo, anunciou uma proposta própria que pode chegar a ¥ 5 trilhões. Só o início dos trabalhos deixará claro se ambos chegarão a um acordo.
Um dos fatores que pode dificultar a aprovação de um orçamento complementar suprapartidário foi o incidente envolvendo a prisão do pescador chinês que incitou o conflito diplomático ao supostamente jogar seu navio contra embarcações da Guarda Costeira japonesa.
A reação rígida da China e a pouca habilidade diplomática demonstrada pelo Japão durante o incidente envolvendo as Ilhas Senkaku, acabaram oferecendo outro ponto de ataque à oposição e de descontentamento até mesmo dentro da coalizão de governo. “O governo passou a mensagem patética para a China de que o Japão é um país que, se pressionado, acaba cedendo. Não há como deixar isso assim”, prometeu o líder da oposição, Sadakazu Tanigaki. Eles querem convocar o Ministério Público para inquirir sobre uma possível interferência política na decisão de soltar o cidadão chinês e saber porque uma fita de vídeo com a gravação do incidente não foi divulgada.
Mesmo derrotado na eleição de setembro para a liderança do PD, Ichiro Ozawa, ex-secretário-chefe da sigla, ainda promete render problemas para o premiê Naoto Kan. A própria convocação da sessão extraordinária cinco dias antes do planejado fazia parte da
estratégia do secretário de gabinete, Yoshito Sengoku, de adiantar o quanto antes o trabalho no Parlamento antes que Ozawa virasse motivo de discussão.
Um painel de investigação independente do Ministério Público, que analisa se o ex-secretário-chefe deve ser processado por um escândalo com verbas políticas, deve apresentar sua decisão no fim de outubro. Caso o inquérito seja aprovado, a oposição o forçaria a depor no Parlamento. Sengoku queria ter tempo suficiente para conseguir amenizar as disputas antes disso, mas a medida voltou-se contra ele: com o conflito com a China, ele deve se tornar alvo de críticas já que se especula que ele tenha influenciado na decisão de soltar o chinês.
Fonte: IPC Digital