quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Projeto Kaeru oferece apoio às crianças que retornam ao Brasil

Psicólogas Kyoko Nakagawa e Cristina Sumita apresentam situação dos retornados em palestra realizada em Toyohashi
As psicóloga Kyoko Nakagawa e Cristina Sumita, coordenadoras do Projeto Kaeru, conferiram uma palestra no Toyohashi Kokaido, em Toyohashi (Aichi) dia 26, sob o tema Inserção Social e Educacional das Crianças Retornadas do Japão.
O Projeto Kaeru foi criado em junho de 2008 através do Isec - Instituto de Solidariedade Educacional e Cultural em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e apoio da Fundação Mitsui Brasileira. O objetivo principal do Projeto Kaeru é oferecer um trabalho psicológico, social, de acompanhamento e reforço escolar às crianças do ensino fundamental da rede estadual de ensino, que apresentam dificuldades no aprendizado em decorrência do movimento migratório Brasil-Japão, pois uma parcela das crianças que retornam ao Brasil apresentam dificuldades de readaptação ao meio social e escolar.
Segundo Nakagawa, cada criança possui uma história própria, e disso vai depender quanto ao seu desenvolvimento e adaptação ao retornar para o Brasil. E para obter um bom resultado, o Projeto Kaeru se fundamenta no tripé assistência à criança, atendimento à família e trabalho em conjunto com as escolas.
Após um levantamento com 91 diretorias de ensino no Estado de São Paulo, os números apresentados foram 957 questionários respondidos de 120 municípios e 318 escolas, num total de 606 crianças retornadas ao Brasil, das quais, 243 haviam nascidos no Japão.
O total de criaças avaliadas e atendidas em 2009 foi de 210 e em 2010 foi de 92. A avaliação é constituída de uma entrevista individual, teste de ansiedade, teste de capacidade e desenho de figura humana e família.
O resultado da avalição apontou nas crianças os seguintes: ansiedade alta, stress frequente, inteligência mediana, falta de estimulação, vulnerabilidade alta para apresentar distúrbios de atenção e concentração nos relacionamentos e de comportamento, dificuldade de relacionamento, insegurança, desinteresse, isolamento e crianças com outras necessidades especiais.
Conforme lembrou a palestrante Nakagawa, a alfabetização de crianças bilíngues é um problema sério, pois os professores que recebem as criancas que retornarm não tem preparo para alfabetizar uma criança com background (formação) cultural diferente. É difícil encontrar uma professora bilíngue no Brasil, principalmente em escola pública.
Também falta material didático adequado, os materias de alfabetização são apropriados para quem fala o português e não para aqueles que falam pouco o idioma ou só o japonês. Falta documentação escolar da criança, que muitas vezes vem escrito em japonês sem tradução.
Na questão afetivo-emocional, as crianças apresentam diferenças culturais, insegurança, auto-estima baixa, problemas de relacionamento pois no Japão a maneira de se relacionar é diferente da do brasileiro. A condição e a dinâmica familiar também muda no processo migratório e isso influi no comportamento das crianças. Quanto ao aspecto de estimulação, o vocabulário é escasso, os desenhos e as cores são menores e falta estímulo ao novo. A coordenação motora é de pouca destreza para manusear uma tesoura e a caligrafia ruim.

Valores culturais
Durante suas visitas ao Japão, Nakagawa tem constatado que várias escolas japonesas recebem as crianças brasileiras bem e tentam fazer o que pode, mas não assumem para si a responsabilidade de educar uma criança estrangeira. A família brasilera também não está enxergando a escola japonesa como um espaço importante de ensino e acabam deixando a criança na escola como se fosse uma creche para ficar mais tempo enquanto trabalha. “Dessa forma, a criança também não entende que a escola seja importante, porque elas respondem muito aos anseios dos adultos”, lembra a palestrante.
“Já ouvi algumas vezes aqui no Japão professores japoneses comentarem que a criança brasileira não tem joshiki (senso comum, conhecimentos elementares). Isso quer dizer que a criança brasileira não tem o sistema de valores da cultura do Japão. Mas acontece também que ela está com dificuldades de adquirir o sistema de valores do Brasil. O ideal é adquirir bom conhecimento de ambas as culturas”, aconselha. “Pois se não tiver o domínio do idioma português ou japonês, também não adquiriu cultura brasileira nem japonesa e o sistema de valores e regras de convivência”.
Ao retornar, lembrar-se de:
Ter a documentação escolar em ordem.
Ter pelo menos o conhecimento básico do português.
Na medida do possível falar sobre as diferenças culturais que vai encontrar.
Não jogar a responsabilidade da escolha de mudar de país na criança, mas ouví-la e negociar.
Preparar-se emocionalmente, pois a estabilidade da criança é altamente dependente da dos pais e a reinserção dos pais também não será fácil.
Projeto Kaeru
www.isec.org.br
projetokaeru@isec.org.br
Blog: projetokaeru.wordpress.com
Fonte: IPC Digital
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário