sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Educação de crianças dekasseguis sofre com crise econômica

No Japão, estimativas apontam altos índices de crianças brasileiras fora da escola. “Um dos motivos é que muitos casais dekasseguis optam por não matricular seus filhos no sistema de ensino visando encurtar sua estadia no país”, revela a educadora Érica Ayaco Sacata Tongu. Entre maio de 2008 e maio de 2009, ela realizou uma pesquisa de campo no Japão, onde entrevistou 25 famílias nas províncias de Shizuoka, Ibaraki, Gunma e Aith. A visita foi parte de seu estudo de doutorado realizado na Faculdade de Educação (FE) da USP, em parceria com a Universidade de Sophia, no Japão. A pesquisa revela algumas razões que causam a ausência dos dekasseguis nas escolas de lá.
“A ‘poupança’ construída no Japão baseia-se, em grande parte dos casos, nas horas extras que as fábricas ofereciam. Com isso, muitos dekasseguis acabavam assumindo uma grande jornada de trabalho, e abdicando do tempo reservado para a família e filhos. É também por motivos financeiros que muitos não matriculam os filhos em escolas brasileiras, em geral, particulares e caras”, afirma Tongu. Fora da escola, as crianças ou ficam em casa cuidando dos irmãos ou nas ruas, podendo ser aliciadas por gangues japonesas.
A visita coincidiu com a crise financeira mundial que afetou fortemente a economia do Japão, que contava com 308 mil dekasseguis, antes do ínicio da crise financeira mundial, em 2008. Contudo, no auge da crise, novembro do mesmo ano, o país possuía 300 mil desempregados entre brasileiros e japoneses, ou seja, quase o mesmo número de dekasseguis brasileiros do país.

Crise Financeira
Nessas províncias, as escolas para brasileiros foram os primeiros estabelecimentos a fecharem as portas, segundo a pesquisadora. “Por essas escolas serem particulares e muito caras, elas foram, muitas vezes, a primeira opção de corte no orçamento familiar. Muitas famílias retiraram seus filhos dessas instituições no período da crise”, afirma.
No entanto, segundo a educadora, a crise foi importante para a reflexão das famílias dekasseguis sobre sua situação no país. ”Famílias que moravam no Japão há 20 anos começaram a refletir sobre a condição de vida no país e passaram a re-planejar seu tempo de permanência no Japão”.

Questões ligadas à Nacionalidade
Filhos de brasileiros que nascem no Japão são considerados brasileiros, não japoneses. Existem muitas crianças brasileiras nascidas no Japão, ou seja, consideradas estrangeiras no território japonês, que só falam português e, em geral, não conhecem o Brasil.
É muito comum as crianças viverem em uma bolha que não representa nem a realidade japonesa nem a brasileira, ou então possuírem uma visão distorcida da realidade do Brasil, em relação à violência, por exemplo, devido a conhecerem o país apenas por meio da mídia.

Escolas
As escolas brasileiras no Japão atendem os filhos dos casais dekasseguis, geralmente empregados nas fábricas japonesas. Por esse motivo estas instituições, em sua maioria, se localizam e seguem o calendário das fábricas próximas.
“Escola Japonesa é feita para o japonês. Assim, ao colocarem seus filhos em uma escola japonesa, é importante que os país considerem que o universo da criança será o japonês e, com isso, essa criança será educada formalmente dentro dos padrões japoneses”, explica a educadora.
Para Érica, o grande problema está no conceito de temporalidade da imigração dekassegui. “A imigração dekassegui é algo temporário que se torna cada vez mais permanente devido, entre outros fatores, à boa infra-estrutura, serviços e oportunidades que os brasileiros encontram no Japão”, relata.
Soma-se a esse fator as grandes jornadas de trabalho e as diferenças culturais que dificultam a visão das famílias sobre o que fazer em relação à educação dos filhos. “As pessoas não erram porque querem, elas são levadas pelas circunstâncias. Este desafio do cotidiano dekassegui acontece no mundo inteiro, como os imigrantes bolivianos no Brasil, por exemplo. Este é o grande desafio da educação para todos os países”, conclui a educadora.
Fonte: Agência USP de notícias
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