Depois de perder para a China o posto de 2ª maior economia, país pode ter amanhã o seu 3º primeiro-ministro em menos de um ano
Os japoneses podem acordar amanhã sob o governo de um novo premiê - o terceiro só este ano - no episódio mais recente da sequência de revezes políticos, econômicos e diplomáticos que vêm sacudindo o país na última década.
Nada menos que 14 primeiros-ministros passaram pelo cargo em 20 anos. Mas não é só. Economicamente estagnados, os japoneses viram no mês passado a China roubar-lhes o segundo lugar entre as maiores economias mundiais. E até mesmo a celebrada opção anti-nuclear da Constituição nipônica está ameaçada. Cada vez mais, os EUA insinuam seu interesse em manobrar armas atômicas na base militar que mantêm em Okinawa, sob o discurso de defender a Ásia das ameaças do regime comunista norte-coreano.
O atual premiê japonês, Naoto Kan, de 63 anos - há menos que cem dias no cargo -, enfrenta hoje Ichiro Ozawa, de 68 anos. Pelo sistema parlamentar local, só os membros do Partido Democrático do Japão (PDJ) podem votar.
E o nome do escolhido ainda será submetido aos parlamentares da Câmara Baixa, onde o PDJ tem maioria.
O páreo não é nada promissor. De um lado, Ozawa enfrenta acusações de fraude na captação de recursos para sua campanha. De outro, Kan tem contra si o fato de não ter oferecido até agora nenhuma solução satisfatória para os problemas estruturais do Japão.
Kan é o favorito. Ele tem 585 pontos de um total de 1.222. Ozawa tem apenas 475. Os pontos são atribuídos pela pesquisa ao porcentual de votos dos parlamentares nacionais e regionais, além de membros filiados ao PDJ em todo o Japão.
O vencedor terá um cenário difícil pela frente. "O país enfrenta um envelhecimento acelerado, baixo crescimento e competição acirrada", disse ao Estado o brasileiro Ronan Alves Pereira, mestre e doutor pela Universidade de Tóquio, que estuda o Japão desde a década de 80. "Ainda assim, a palavra crise tem significado diferente no Japão e no Brasil. A crise japonesa faz com que você não troque de carro todo ano, mas a cada dois anos talvez".
Fonte: O Estado de S.Paulo